O espaço público como comunicação

Neste grupo reúnem-se as obras de dimensão identitária e as cenografias da sociabilização que normalmente associamos ao desenho de instalações temporárias, celebrativas de um determinado evento. Com uma forte representação visual, são obras de exceção na construção de um imaginário urbano, no sentido em que não respondem à necessidade de durabilidade do espaço público, à tradicional responsabilidade dos lugares públicos de oferecerem uma estrutura duradoura e significante na cidade. Ainda assim, estes pavilhões, instalações e cenografias são de uma enorme generosidade e trazem possibilidades, ainda que pontuais, de redescobrir espaços com capacidade coletiva que anteriormente estavam ocultos ou sem uso.

Apenas três das obras que compõem este grupo não foram obras efémeras. Caraterizados pela integração de peças de mobiliário urbano – palas de sombreamento, bancos, iluminação –, os projetos da Cobertura da Praça da República, em Portimão, do Atelier Cais; Aurantes, em Abrantes, de Diogo Aguiar Studio; e Landscale, em São Miguel nos Açores, dos Mezzo Atelier, criaram uma nova condição para a utilização e permanência de um espaço público já existente. Tal como este último, Two Manifolds, em São Miguel nos Açores, e (The Unknown), em Torre de Moncorvo, de Nuno Pimenta, são instalações de paisagem, mirantes e landmarks, que assinalam novos pontos de observação, paragem e, indissociavelmente, de relação com o espaço envolvente.

Associando um carácter lúdico e funcional, instalações como o pórtico Glassberg, na Figueira da Foz, dos FAHR 021.3; o Mezzo Mercato em Milão, dos Mezzo Atelier; Bombarda, no Porto, do estúdio STILL Urban Design; e Uma Praça no Verão no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, de José Neves, compõem-se por meio de repetições e associações de elementos, ou módulos, que imprimem um novo dinamismo ao contexto que, provisoriamente, habitam. Numa perspectiva oposta, a Instalação Carnet C10, no Mosteiro da Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia, de Pedro Matos Gameiro, Marta Sequeira e Carlos Machado e Moura, desenhada especificamente para aquele local e para um determinado evento, permitiu a utilização coletiva de um espaço usualmente de acesso condicionado, conferindo-lhe, momentaneamente, as características de espaço público.

O Percurso no Giardino delle Vergini em Veneza, de Álvaro Siza; os pavilhões Povera, em Almada, e Gallery, em São Miguel, nos Açores, do atelier JQTS; as instalações urbanas Vira-Lata, no Porto, do coletivo Moradavaga; e Ponte Luminosa – Lisbon Falls, na Fonte Luminosa em Lisboa, de Marcelo Dantas, tiram partido da sua condição híbrida, entre uma caracterização como proto-pavilhões – espaços delimitados que distinguem interior e exterior –, ou como percursos ou ligações – espaços que articulam e relacionam outros espaços –, mas sempre com uma enorme sensibilidade em relação ao lugar onde se inserem, dinamizando-o e criando, assim também, novas oportunidades de experiência e uso coletivo.